Por Otávio Cavalcante Kuhn dos Santos
Texto pra quem acredita (de verdade) na liberdade, se juntem a nós. Dispenso a leitura de quem acha que leva uma vida boa e não faria nada pra mudar:
Quando eu era pequeno, sempre que me perguntavam o que eu queria ser eu dizia: Médico e Professor da Escola Paulista de Medicina. Se bobear algumas vezes ainda devo ter falado que queria ser obstetra. Por quê? Pra mim parece simples, nasci na casa certa para crescer com esse diálogo, cresci vendo o homem mais apaixonado pela própria profissão que já conheci. E, para amar tanto assim uma profissão, ele ama, acima de tudo, a humanidade e a natureza. Num mundo em que todos correm pelo dinheiro, ele me ensinou que tudo o que eu fizesse com amor eu seria bem-sucedido. Esse exemplo de homem, Jorge Kuhn, é meu pai, meu maior exemplo, meu herói, meu melhor amigo. Ele casou com minha mãe, Esmerinda Cavalcante, ou Mema, outro exemplo na minha vida, nunca vi alguém amar o "ninho" desse jeito, exemplo de como criar com amor. E haja coração nessa mãe, porque o que ela reza pela gente não está escrito.
Bom, não só amando a profissão, mas amando a família acima de tudo, ele me mostrou o verdadeiro significado de "família", algo que foi esquecido hoje em dia. Não tenho vergonha alguma de dizer na frente do mundo todo que amo meu pai, que sempre vou amá-lo, que agradeço do fundo do coração por ter nascido nessa família.
Qual foi o resultado dessa criação? Bom, tenho duas irmãs magníficas, Clara Kuhn e Renata Kuhn, com os maiores corações que já conheci, que amam o que fazem e junto comigo, ainda nadam contra essa corrente acéfala que arrasta a maioria hoje em dia (ou alguém conhece um trio composto por: uma Pediatra que ama atuar na saúde pública por poder ajudar as pessoas com menores condições financeiras, sem pensar um tiquinho no dinheiro; uma hoteleira/marketing que atravessou o mundo e foi morar no Paquistão por amor, sem contar a organização de um projeto social que já dura anos; e um estudante de engenharia que nunca pensou em exercer essa profissão pelo dinheiro?).
Um dos grupos de humanização de partos do qual meu pai faz parte organiza todos os anos uma viagem, na qual se encontram pais, mães, e filhos (MUITOS!). Uma vez um dos pais veio me dizer que acha um barato eu e minhas irmãs participarmos destes eventos (tendo em vista que somos os únicos com idade maior que 20 anos). Eu participo mesmo, e participarei todas as vezes que puder, pois estar com minha família, e ver de perto a admiração que estas mães têm pelo meu pai é algo sem preço. Admiração por quê? Pois ele preza a liberdade de escolha das mulheres, ele respeita o parto, sabe que é um momento único na vida de uma mulher, e não vai simplesmente "passar a faca" no dia mais importante de sua vida para chegar em casa à tempo de ver a novela.
Se você teve paciência de ler até aqui, agora vai a explicação do por quê deste texto. Dois dias atrás meu pai apareceu em uma matéria no Fantástico, sobre o parto domiciliar. Ele falou com propriedade as contra-indicações e disse que "o parto não é um ato cirúrgico, o parto é um ato natural" (eu vivo 24 anos na mesma casa que este homem e sei a propriedade com a qual ele fala, ele ama estudar, e tudo aquilo que faz tem embasamento em Medicina baseada em Evidências e mais de 35 anos de estudos). Resultado? O CREMERJ (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) veio então, por nota oficial, comunicar que entrará com uma denúncia contra meu pai, uma denúncia por ele defender o parto domiciliar.
Vamos lá então, se meu pai será crucificado por estar entre a minoria que apóia a liberdade da paciente, que o Brasil seja crucificado por ser a minoria do mundo que prefere a cesárea ao parto normal (sim, o Brasil possui o maior índice, e não é pela cesárea ser o certo). Se meu pai será denunciado por amar o que faz, que denunciem todos aqueles que vivem com amor, e que esse mundo seja transformado em um inferno de ódio. Se meu pai será denunciado por passar horas trabalhando, enquanto o Fulano já fez sua cesárea e está em casa assistindo ao Jornal Nacional, que denunciem o Mandela, o Ghandi, Jesus Cristo, e todos aqueles que trabalharam forte por um mundo melhor.
Estou morando fora do país desde Setembro passado, minha vontade era estar no Brasil para batalhar por aqueles que amo, e, acima de tudo, por aqueles que AMAM. Convido a todos que participem da Marcha do próximo Sábado (16) e domingo (17) (http://www.facebook.com/events/103917906416661/). Essa marcha é muito mais que uma marcha pelo parto, é uma marcha pelo que foi esquecido há muito, a liberdade de expressão e escolha.Hoje cheguei à certeza de tudo o que sempre pensei, vivemos sim numa ditadura. Façamos barulho então, parem a Avenida Paulista e todas as principais avenidas do Brasil, e quem ficar em casa pois acha isso "bobagem de arruaceiros", tenho pena de vocês. Convido a todos para um luta pelo que foi esquecido há muito tempo, a liberdade! E para mostrarmos que não somos robôs deste sistema, no qual o CRM é um pretexto para se ter status, e para esquecer o um dia feito "Juramento de Hipócrates" (ou eu li errado em algum lugar e o nome é Juramento de Hipócritas?).
Otávio Cavalcante Kuhn dos Santos, filho de Jorge Kuhn com orgulho!